quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

It's the end of the year as we know it...

Caminho - Camilo Pessanha

Tenho sonhos cruéis; nalma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta dharmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu dagora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.


---


Tabacaria - Álvaro de Campos, 1928

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

domingo, 7 de novembro de 2010

Rotações por minuto...




Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo e o meu desejo se perdeu de mim

E agora eu ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa o que me resta
Encontrar alguém legal pra ficar

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo e o meu desejo se perdeu de mim {2x}

E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu não conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia

E agora eu vejo,
Que aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo e o meu desejo se perdeu de mim

sábado, 16 de outubro de 2010

Roll the dice...

É engraçado ler isso depois... "Eu tinha certeza, mas estava errada. Eu ia dizer, mas calei. Eu achei que seria muito, mas não foi nada. E eu ainda não sei o que isso significa."


7/10, 14:45 em Floripa
Didn't want it like this but "life's what happens when you're busy making plans", or so they say. So, gotta roll with it. I always leave it to the dice, don't I? My bf doesn't like it, he laughs at how I roll 'em. But the hell with it! I'm a player. And a good one.
He likes me. In a way that makes me unconfortable. Why? I have no idea. I wish Bianca was here. I like talking to her about certain nonsense...
I feel strong and I feel weak at the same time. I wish I had Rachel's tarot and entropy habilities. I like her, lol. But I digress. You know what I mean. I'm out and he insists on pulling me in. That's how we play. I shouldn't do it. I'm sick as it is. But can I stop it? Could I stop it? I like it, but how far can I go without getting hurt, without getting worse? I'm not gonna do anything. Same as before. I'm keeping my hands out of the blankets. If it's gonna happen, it's gonna be his issues. It makes me feel powerful, but it's still I who's being used. What a wicked game we play, to make me feel this way. What a wicked thing to do, to make me dream of you. No, I don't wanna fall in love... with you. I don't wanna hear him saying that. Not this close to me. I don't wanna see him looking at me. Not this close. I don't wanna feel him kissing me. I want a fair play. Not this sick. I don't want it this sick. You're sick. I don't wanna be any more sick than I already am. 'Cause I'm too sick. When will it be enough? I was looking forward to nothing to happen. But something happent. And it changed it all. It made me wonder. And he keeps coming back, even though we said good-bye. I don't know what I want, what I should do. I just know it hurts so good... And I don't even like him. Well, I like him a little... Maybe his crazyness. But that's all. He's not that good at all. But there's just something about him... He tried to throw me away. He pushed me back. And I know him enough to know that there's gonna be more. He thinks we've got a pact. I didn't agree to anything, chéri. But I'm gonna have my time to ask you why. I wanna finish it. I wanna show you how I feel, how I feel you're inferior, how I feel you don't even deserve respect. You're phony, you're a fake. But I don't buy your facade.
As I visualize myself unmasking you, I feel sad, because there's something so childish about you, that even gives me pity. Anyhow... I just wish I was healthier. It's like I'm not even here. I don't know where I am. I feel sad.


P.S.: jogando o Tarot pra tentar entender o que isso significa, saiu a carta d'O Julgamento: renascimento, nova etapa, punição ou recompensa merecida, prestação de contas...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Trecho de relatório de uma prática em aula de Psicologia Sistêmica...

"[...] em certo momento, minha imaginação estacionou no quintal do jardim da casa onde morava quando criança. Sempre uma garota introspectiva, mesmo não tendo problemas sociais devido a isso, minhas melhores amigas de infância foram as árvores de meu quintal. Passava as tardes subindo nelas, brincando com suas folhas e flores, estando bem familiarizada com seus galhos e marcas em seus troncos. Conhecia intimamente a todas, tendo, inclusive, plantado ou ajudado a plantar algumas. Essa lembrança de infância me causa grande pesar, pois, há cerca de 2 anos, passei em frente a essa casa, subi no muro para matar a saudade de minhas velhas amigas e tive uma forte surpresa desagradável: elas haviam sido assassinadas pelo novo dono da casa. Nem a grama sob seus pés havia sido poupada. O quintal de minha infância, outrora cheio de vida, havia virado um grande terreno vazio, contendo apenas terra e lembranças. Essa imagem até hoje me causa lágrimas ao travesseiro. Não pude me despedir de minhas amigas antes do holocausto que as encontrou. Nunca pude dizer a elas do amor que sinto, da pessoa que me tornei, da reverência que sinto à natureza, muito devido à amizade paciente e estável delas.
Após isso, recordei-me das manhãs de aula, das idas à escola com meu pai. Nossas manhãs tão ritualísticas de café e caminhada, com o sol nos olhos. Mantenho uma boa relação com meu pai até hoje, cinco anos depois da separação de meus pais. Continuamos com nossos encontros ritualísticos de café e caminhada, apenas mudando o horário da manhã para a tarde."

terça-feira, 20 de julho de 2010

La Force

E se tudo o que eu admirar sobre mim mesma for apenas uma ilusão?

Me dizem para ser forte... Mas o que é ser forte? É correr para qual lado?
Não conseguir pedir ajuda, nem para quem mais o ama, isso é ser forte? Não saber pedir ajuda, não poder chorar, não conseguir admitir seus medos, suas fraquezas... Isso é ser forte? Ou é exatamente o contrário, ser covarde? Se esconder atrás de sua própria muralha, sua própria fortaleza... E ao se deparar com suas limitações, fingir, atuar, colocar a boa e velha máscara de inabalável e inventar desculpas para os outros...?

Será que aprendi a ser forte de verdade ou apenas a agir como se fosse? E, novamente... O que é ser forte?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Será...?

C'est la vie... É tudo o que consigo pensar, quando no meu corpo passam várias memórias. No estômago, a volta às aulas hoje, depois de apenas duas semaninhas de férias. Na pele, além do frio, os planos e os desejos que, ainda não frustrados, mas cada vez mais distantes ou difíceis. Na testa, o hermetismo, a elevação cultural, os estudos abandonados por, enfim, diversos motivos. Na nuca, o relógio biológico (considerando que são 6:48 da manhã, e eu acordei à 1:04) e os maus hábitos já instaurados há tanto. O sentimento de culpa e medo advindo disso. Medo? Sim. Sinto as conseqüências no meu corpo, as limitações e a preguiça se agravando, as dúvidas e autoquestionamentos por vezes me corroendo por dentro e me prostrando (física ou metaforicamente)...
O tempo todo sinto o desejo de mais, de ser mais, de saber mais, de fazer mais... E não consigo. Sinto-me tão intensamente limitada! Eu sei que alguma coisa morreu em mim. Uma centelha de vida que se apagou. Não sei quando e não sei como, mas acho que já fui mais viva do que isto. Será?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Poesia, sonho, névoa... eternidade

"Essa noite pode não ser eterna, mas... eu sei... ela tem um quê de eternidade..."

Caminhei com as pernas bambas, sua última frase ecoando em minha mente. Senti uma coceira no nariz, indicando que eu não iria agüentar. Desandei a chorar antes mesmo de colocar a chave na porta (meu deus! A gente cria poesia, a gente cria sonho, a gente cria névoa!), com a sensação de "já posso morrer agora"...

Hand in glove
The sun shines out of our behinds
No, it's not like any other love
This one is different - because it's us

Hand in glove
We can go wherever we please
And everything depends upon
How near you stand to me

And if the people stare
Then the people stare
Oh, I really don't know and I really don't care

Kiss My Shades

Hand in glove
The Good People laugh
Yes, we may be hidden by rags
But we've something they'll never have

Hand in glove
The sun shines out of our behinds
Yes, we may be hidden by rags
But we've something they'll never have

And if the people stare
Then the people stare
Oh, I really don't know and I really don't care

Kiss My Shades ... oh ...

So, hand in glove I stake my claim
I'll fight to the last breath

If they dare touch a hair on your head
I'll fight to the last breath
For the Good Life is out there somewhere
So stay on my arm, you little charmer

But I know my luck too well
Yes, I know my luck too well
And I'll probably never see you again
I'll probably never see you again
I'll probably never see you again
Oh ...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

The girl with the thorn in her side...

Uma lágrima única escorre lentamente pelo lado esquerdo da minha face, ao som de Smiths, como deveria ser... Sempre que algo morre dentro de mim, meu corpo se movimenta ao luto. O que morreu? Eu não sei. Mas eu me movimento de mortes e vidas... E não sei pôr em palavras tudo o que nasce e morre em mim. Ask me why and I'll die... Oh, ask me why and I'll die!


You might sleep but you will never dream...
Ah, Morrissey... você me faz chorar como uma criança desesperada... I don't know.

But we cannot cling to the old dreams anymore. No we cannot cling to those dreams... AM I STILL ILL?

Cada música que toca é uma facada em algum lugar diferente do meu coração. Só Smiths para conseguir condensar todos os meus traumas em meia dúzia de palavras, e fazer doer, muito, por todos eles de uma vez só.

The passing of time and all of its sickening crimes is making me sad again. The passing of time leaves empty lives waiting to be filled...

Me sinto tão errada, tão tão errada... You shut your mouth, how can you say I go about things the wrong way? I am human and I need to be loved, just like everybody else does...

But I feel like I'm the most inept that ever slept...
P.S.: prefiro/preciso deixar o final implícito, explosões cósmicas, e things that are better off left unsaid.

terça-feira, 23 de março de 2010

Parce que c'était inoubliable...

Connaissance de la mort
(Pichon-Rivière, 1924)

Je te salue
mon cher petit et vieux
cimitière de ma ville
où j'appris à jouer
avec les morts.

C'est ici où j'ai voulu
me révéler le secret
de notre courte existence
à travers les ouvertures
d'anciens cercueils solitaires.


Nosso poema! ^^


sábado, 20 de março de 2010

But these things take time and I know that I'm the most inept that ever slept...

No matter how much I run, I still feel the way that I'm used to. I'm still me, the one that shouldn't be.

Queria tanto que a minha mãe tivesse conseguido o que ela queria, que eu não existisse. Eu passei a minha vida toda tentando provar praquela ela dentro de mim que eu não era assim tão ruim, pra que ela me desse permissão para existir. E aí eu precisava ser cada vez mais, melhor, perfeita. Porque errar era ter que morrer, ser insuficiente, deixar de existir. Então, cresci com um déficit de amor irreparável, um buraco negro impreenchível como ser. E funciono no m.o. "me ame - me ame mais - me ame muito mais - você nunca vai conseguir me amar o suficiente, tchau".
É por isso que existir me cansa tanto... Porque eu não posso errar, e mais ninguém pode errar. Mas mesmo que as pessoas não errem, ainda não é o suficiente. E mesmo que eu não erre, eu não sou o suficiente. É um poço sem fundo, um buraco negro que suga todo o tempo e espaço... E eu tenho vivido só alimentando isso. (Eu sei que tem uma referência aí mas não consigo pescar... Viver para alimentar um ser que nunca se satisfaz... É de um filme isso, não é? Droga =/ )
Eu ia jogar o Tarot, mas eu nem preciso. Eu sei. Eu consigo novamente ler os sinais. Não é mais esse o problema. O problema é que eu não sei como, concretamente, mudar meu jeito de agir. De um modo que não seja simplesmente pantomímico, um simulacro de mim. Ok, anos de análise... Eu sei. Mas não consigo evitar sentir que estou fodendo comigo mesma cada vez mais. Eu já tive um superego, há não muito. Agora, funciono só no id, só no Princípio do Prazer. Minha tolerância a frustração tá no nível -3 mais ou menos. E se eu entrar em psicose, fico feliz. Porque assim consigo dormir acordada, fugir da realidade...

Engraçado como eu tive este insight... Estava comendo, pensando no tanto que me sinto inadequada e inept, com vontade de comer até explodir, daí a música Helena do Misfits ficava tocando incessantemente na minha cabeça... If I cut off your arms and cut off your legs, would you still love me anyway?... Why don't you love me anyway? Aí eu consegui me tocar que a música não era para quem eu estava pensando... era pra minha mãe! Então entendi a associação livre que meu inconsciente estava fazendo para me mostrar porque eu me sinto tão mal quando eu cometo algum erro... ("Por que você não me ama de qualquer jeito?") É tão verdade que o inconsciente só quer se fazer ouvido... É só prestar atenção com um pouquinho mais de cuidado que ele se revela...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Smiths-me, please... Well, you do, you did ^^

Smiths - Pretty girls make graves
Upon the sand, upon the bay
"There is a quick and easy way" you say
Before you illustrate
I'd rather state:
"I'm not the man you think I am
I'm not the man you think I am"

And Sorrow's native son
He will not smile for anyone

And Pretty Girls Make Graves

End of the pier, end of the bay
You tug my arm, and say:
"Give in to lust, Give up to lust, oh heaven knows we'll
Soon be dust...
"Oh, I'm not the man you think I am
I'm not the man you think I am

And Sorrow's native son
He will not rise for anyone

And Pretty Girls Make Graves
Oh really?

I could have been wild and
I could have been free
But Nature played this trick on me
She wants it now
And she will not wait

But she's too rough
And I'm too delicate
Then, on the sand
Another man, he takes her hand
A smile lights up her stupid face (and well, it would)

I lost my faith in Womanhood
I lost my faith in Womanhood
I lost my faith...

http://bit.ly/bIJCG

Fazia uns dias que eu queria escrever sobre você. Mas... sei lá, cadê, faltava AQUELA coisa simbólica que me fizesse pensar "eu TENHO que escrever isso". Bem, eu tuitei bastante... rs.
Mas pro blog, era isto. Foi isto. Tinha que ser isto. Não... É muito mais. É mais umas 15 músicas do Smiths. Você sabe...
There is a light that never goes out...

Take me out tonight
Because I want to see people
And I want to see life
Driving in your car
Oh please don't drop me home
Because it's not my home, it's their home
And I'm welcome no more
...
Take me out tonight
Take me anywhere, I don't care
I don't care, I don't care
And in the darkened underpass
I thought Oh God, my chance has come at last
But then a strange fear gripped me
And I just couldn't ask

http://bit.ly/14ftF4

E, é claro... Take my hand and off we stride Lalalalalala You're a girl and I'm a boy Lalalalalalalala... Take my hand and off we stride Lalalalalalala I'm a girl and you're a boy Lalalalalala...

Minha vidinha tão rápida, tão caótica, tão me enchendo de vida e tão aumentando minha pulsão de morte... Não dou conta de você, você é tanta. Você é tão mais que eu, e eu sinto que preciso me expandir pra conseguir conter você em mim. Não sinto mais que estou acelerando em busca de uma parede para me parar... Mas você está correndo demais... E para onde nós duas vamos? Você precisa me dizer, meu bem... Você que está puxando a minha mão... Vamos rodar o mundo? Vamos conquistar o mundo? Hmm, alguém disse "histeria"? Bem, eu digo! E aí, continuamos funcionando na histeria ou estacionamos O Carro um pouco? Como saber a hora de diminuir a velocidade ou parar? Am I still ill?

quarta-feira, 3 de março de 2010

O sábado e o segunda

Ele me faz bem física e mentalmente. O ele me faz mal física e mentalmente.
Ele me respeita e cuida; o ele me desrespeita e descuida.
Ele me quer; o ele me usa.
Com ele, fico em paz e segura. Com o ele, fico nervosa e insegura.
Perto dele, fico tranqüila, posso só conversar. Perto do ele, fico querendo ser beijada e jogada contra a parede.
Ele é um Homem. O ele é um menino.
Ele é verdadeiro. O ele nem se conhece.
Ele me admira. O ele quer ser admirado.
Ele escuta e é companheiro. O ele fala e é egoísta.
Ele quer andar devagar. O ele quer andar no ritmo dele.
Por ele é carinho. Pelo ele é doença.

Agora me pergunte qual dos dois é que não sai da minha cabeça. Maldita cabeça.
Preciso desintoxicar.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

E o feriado ainda não acabou...

Escuta... Eu não sei se você está falando por falar, mas eu estou levando a sério. Você quer que eu volte na tua casa, você quer me ver de novo... Quando te perguntei o que você quer de mim, você sorriu e me abraçou... Me deu satisfações sem eu pedir (e nem esperar! Porque estava acostumada com seu jeito ausente e distante, e suas migalhas sempre me foram o suficiente...). Como eu faço para não me empolgar? Você disse que não quer namorar, e eu, certamente, também não quero. Mas você mudou tanto! Está carinhoso, amadureceu, não foge quando eu falo das coisas... Você me traumatizou tanto, mas não tanto quanto o último cara. Você nunca foi filho da puta comigo, me tratou relativamente bem... O quanto é possível não carregar os mais de 7 anos de história? Nunca será como da primeira vez, nunca será como antes. Os meus sentimentos são tão diferentes, menores, do que antes... Mas será que isso não é melhor? Agora tem a chance de ser mais equilibrado, mais saudável. Porém, será que tão reforçador quanto antes? Bom, a prova de que eu JÁ me empolguei demais é essa... Estou superanalisando a situação.

Agora com relação aos outros dois. Nossa... será que eu consigo analisar isso, assim tão fresco? A sensação é mais de desconforto, confusão, frustração e dúvida... Mexe com tantos conteúdos meus de uma vez só! Amizade, sexo, confiança, sinceridade, desejos, ilusões, ideais, tabus, amor, maturidade, desejos alheios... Aliás, mexe com muitos conteúdos de muita gente... pelo menos mais 4 pessoas! Se eu não for contar mais um... E esse um vem com outro, e assim vai.
Eu sempre quis que a minha vida fosse o Splendor, ou o Threesome. Mas eu tinha só uma vaga idéia das complicações que vêm junto. A vez que eu namorei várias pessoas de uma vez só foi muito mais fácil. Um em SP, um aqui e uma melhor amiga. E agora? Será que os meninos dão conta? Será que eu dou conta? A parte emocional JÁ ESTÁ me dando nós na cabeça...
Como o Gabriel me sugeriu, preciso parar de procurar as coisas. Relaxar, entender o porquê dessa urgência... Acho que eu preciso é deixar os outros trabalharem um pouco também, hehehe =P =)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Pra quê dormir se eu posso me maltratar mais um pouco? =)

25/01 +- 18h - Você me diz que sou neurótica. Mas é porque sou sincera com relação aos meus inner motives. Por exemplo, fico o dia todo sem comer, para me machucar, em uma atitude obviamente anoréxica. E quando como, afogo minhas mágoas e carências na comida. Eu sei disso e não finjo, não preciso me enganar com uma retórica bonitinha. Não preciso me enganar com relação a mim mesma. Meu ego não é frágil, por isso posso admitir meus demônios. Bem, talvez não todos. Ainda não tenho esse nível de evolução e... desprendimento? rs.
Não preciso ser leve, porque as coisas ruins não me assustam. Esses abismos que eu tenho dentro de mim costumavam ser uma paisagem tranqüilizadora.

A Morte
Indica transformação, libertação dolorosa, mudança (de país, cidade ou casa), desprendimento das coisas supérfluas, novas perspectivas, lucidez mental, ascetismo, insegurança financeira. Representa momento do fim de um ciclo, pode ser a saída de um emprego ou a ruptura de um relacionamento e a grande dificuldade de aceitar transformações.

26/01
7ish am - Eu me perguntava se amor apodrecendo vira adubo. Mas acho que no corpo de uma escorpiana vira é veneno. Preciso, então, achar meninos masoquistas. ^^

7:22 - Cara, se a história se repetiu mais umas vezes, é porque eu não aprendi da 1ª vez o que tinha que ter aprendido. E agir igual esperando resultado diferente é idiotice. Portanto, desta vez tentarei um novo approach. Vou tentar ser menos casa 6, mas também não ser casa 8. E agora? Não sei como agir! Perdi minhas referências! Eu tenho que ser Sol, mas meu Sol é da 6... Isso significa q eu não sei ser o que sou, sem ser subserviente? (aliteração ^^ Lembrei do Bira)
Não posso ser nem Marte nem Lua... Ser Vênus funcionou um pouco. Mas só sei ser Vênus na rua, com pessoas a fim de mim. Em situação a dois, é sorte eu não ser puro Plutão, rs. Isso quando eu nao viro Mercúrio, overanalyzing things. Acaba com a minha - pouca - espontaneidade.

7:49 - Meu twitter é aberto para quem quiser ler. Eu rasgo meu coração e limpo o sangue nesta tela. Não só nele, e aqui, mas com relação a tudo, eu me mostro tanto, que eu sou o escorpião que abandonou o exoesqueleto, e as garras, e o ferrão. Ficou só uma minhoca, exposta a tudo e a todos. Mas nem para ser hermafrodita, para as coisas ficarem um pouco mais divertidas...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Coisas de filha da deusa da colheita...

Eu não entendo... Eu tenho tanto amor dentro de mim, ele escapa pelos meus poros... Por que eu não posso amar?

Por que apenas alguns dias me parecem eras? Milênios sem você... Porque eu não consigo parar de pensar, e você me acompanha, até nas coisas que eu faço pra te esquecer.

Esse amor apodrecendo dentro de mim está me enchendo de raiva, de rancor... Mas eu não quero isso. Não quero responder como eu acho que teria direito. Se você sorrisse pra mim, eu seria capaz de esquecer tudo. That's how stupid I am. Aí entra aquela minha coisa de mártir, que eu tenho que aceitar tudo, carregar a cruz antes de ir para o paraíso. Não consigo decidir para que lado caminhar. Não consigo saber se vocês são o que dizem, se é paranóia minha ou sexto sentido me alertando...

As situações têm se repetido, e eu me perco nessa espiral. Parece que a vida está segurando minha cabeça para olhar em uma determinada direção, mas eu não percebo onde está o foco. Não consigo ver o que ela me aponta... E o tarot me diz muitas coisas, mas nunca o que eu quero saber. Já sei, há tempos, que estou fazendo as perguntas erradas. Não consigo ler as placas, a vida me aponta as estrelas e eu fico olhando para o dedo e me perguntando o que isso significa...

Será que amor apodrecendo vira adubo?...


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In a related story, but not so much...
Eu estou pronta para me apaixonar de novo. E isso é extremamente problemático. Porque, de quem eu gosto? De pessoas inacessíveis (seja emocionalmente, "relacionalmente", ou fisicamente). Tem um menino gostando de mim, e que já saiu da fase de latência ^^ E eu gostandinho dele também, mas já querendo mais do que ele pode me dar, como é bem de praxe. Não quero complicar a vida dele. E por isso, já fui para lá vacinada. Mas mesmo assim. O coração teima em bater, mesmo todo machucado. Não dá tempo nem de cicatrizar e já vem outro talho. E eu sei, com muita certeza, que estou fugindo desde que o Pedro terminou comigo. E depois veio um, e mais um, e mais outro, e outro mais... Eu queria conseguir sentir por outra pessoa 70% do que eu sinto pelo outro lá... Eu sei, nitidamente, que é a história com o Ronaldo all over again. E o pior é que agora eu sei o que acontece 6 anos depois! As coisas não mudam, como mudaram com o... o primeiro cara de quem eu gostei na vida, que não me quis quando eu queria e agora me procura até hoje. Enfim, minha vida amorosa anda extremamente frustrante. E por as situações se repetirem, sei que é culpa minha e que preciso aprender algo para passar de fase. Mas esta lição é difícil, como a cada novo estágio fica mais. E me parece que reprovarei de novo nesta matéria, pois estou longe, longe mesmo de desvendar a incógnita. =(

Mas eu só queria ficar pertinho de você de novo... =(((


Post scriptum: Eu liguei pro #mimimi e, ao mesmo tempo, o Ronaldo ligou pra mim. Velho, que medo desse mundo! E, justo hoje cedo, o tarot disse que uma lição que eu precisava aprender é a curtir os imprevistos da vida. Que é um jeito de as coisas cicatrizarem... Não lembro detalhes. E o Via Tarot tinha tirado o 2 de copas pra hoje. E o dia não havia sido NADA 2 de copas. Nem um "oi" 2 de copas =( Mas agora à noite, uns 2 de copas fofinhos e inesperados, juntando as duas leituras do tarot. Eu AMO coisas inesperadas, convites inesperados na madrugada², coisas fofinhas, gente me ocupando, *ui*... rs. Enfim, dia total sincrônico! São meus preferidos, super significativos ^^

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A quem interessar possa... As Estações do Ano, as lendas de Perséfone, e afins....


O rapto de Prosérpina - Bernini, 1622


"Alegria endurecida, é tumor. Tempo derretido, é poema. Uma unha encravada poderia ter sido um poema." (Café Filosófico, Viviane Mosé e Nelson Lucero - http://bit.ly/4GeDnu).


E eu queria tanto fazer poemas com você. E músicas, e todo tipo de arte...

"O afeto exige expressão. Ele se manifesta, ou como câncer, ou como poema".

Eu acho engraçado certas pessoas falarem de afeto. Sendo que elas são hipócritas, levianas e não dão conta do afeto alheio (tudo bem, aceito trocar o permanente "são" pelo mais transitório "agem assim"...).

Eu me sinto mesmo filha de Ceres, a deusa da colheita, com Vênus florescendo dentro de mim. A única coisa que eu queria era espalhar amor pelo mundo. Mas o mundo não tem sido um terreno fértil para essas sementes. E aí, obviamente, elas apodrecem. É o ciclo vital (e Escorpião bem rege esse apodrecimento, que fertiliza, e dará lugar à vida novamente, tal qual uma Fênix).

Eu ofereço o que tenho de melhor e mais puro, mas as pessoas não vêem beleza no subsolo. Elas querem as flores, e as borboletas, mas esquecem que é das profundezas do reino de Plutão que vêm as pedras mais preciosas.

E Perséfone é obrigada a passar um tempo ao sol, sendo leve e colorida, e um tempo nas trevas, se recuperando dos espinhos das rosas, das ferroadas das abelhas, dos escárnios das lavadeiras. Lá, é rainha de seu reino, o reino das profundezas, o reino da justiça implacável, onde os preconceitos, as falsidades e os teatrinhos não podem mais ser encobertos, disfarçados pela retórica. Lá, amparada pelas Fúrias, pode dormir, em paz, ensimesmada, sem o risco das rasteiras e punhaladas nas costas, dos ditos e desditos dos malditos.


O Retorno de Perséfone - Leighton, 1891