domingo, 29 de abril de 2012


Criatura abortada, morta em seu vir-a-ser

A noiva abandonada no altar
O buquê de pequenas rosas apodreceu
O terno risca-de-giz do noivo mofou
O feto permanece imerso em seu berço de formol
esperando o sopro divino, raio de vida que lhe abrirá os olhos
para um mundo que nunca viu.

Pequena aberração
tão desejada pelos pais
rejeitada por deus e pelo diabo.
Quando a noite é silenciosa,
posso ouvir seu coração titubear.

O túmulo putrefato da existência é o útero que se faz seu ninho
O aroma agridoce da podridão anuncia
que sua hora está chegando...
Você já pode ver a luz?
Seu pai irá voltar.


...


E agora, José?
O buquê secou
O noivo morreu
A noiva ficou esquecida
O feto não nasceu
A vida prosseguiu
Mas não para eles
O mundo continuou a girar.
Rosas e escombros.

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