quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Contos

Uma série de minicontos experimentais e não-pretensiosos, rs...

O ofício
Pegou seu bloco e começou a escrever. Decidira tentar mais uma vez com os contos. É a história de um casal. Cena corriqueira: ela secando os cabelos e ele irritado pois não consegue ouvir o futebol na tv. Discutem. Enquanto escreve, sente-se feliz consigo mesma: "é uma história comum, muitos vão se identificar". Continua escrevendo o diálogo do casal. "As falas estão bem plausíveis", pensa. A história continua, mas o contentamento diminui. "O que quero dizer com isso tudo?" As linhas se seguem, mas o diálogo não chega a lugar algum. Pensa em arrancar as folhas e começar outra história, mas não consegue: sua mão está escrevendo sozinha. A discussão segue interminavelmente. Não há mais argumentos mas os personagens continuam a discutir, e a caneta a escrever. Tenta levantar da cadeira, gritar, empurrar o papel... Tudo em vão. As horas passam. Tornou-se prisioneira das letras. A história prossegue.

Férias
Ela: amor, a gente podia viajar nestas férias, né?
Ele: claro, linda. Você está a fim de ir a algum lugar?
Ela: a gente podia visitar aquele seu amigo, né?
Ele: quem, o Val?
Ela: não, aquele outro.
Ele: quem, o Dodô?
Ela: não, aquele outro.
Ele: quem, o Nardinho?
Ela: não, aquele outro.
Ele: quem?
Ela: aquele lá... que você sempre conta aquelas histórias...
Ele: quem, o Elton?
Ela: isso!
Ele: você quer ir visitar o Elton?
Ela: é, você sempre fala dele. A gente podia ir visitá-lo, né?
Ele: o Elton? Aquele que tem uma mansão em uma praia privativa no Nordeste, que eu não vejo há dois anos, que é um dos melhores amigos da minha ex-namorada, com quem fiquei por sete anos, noivei e que terminou comigo há seis meses, sendo que você sabe tudo isso e a gente só está junto há dois meses? Esse Elton?
Ela: onde é mesmo que o Dodô mora?
Baseado em fatos semi-reais relatados por pessoas semi-reais.

Ofício
Os personagens discutem há três dias. Ela já não come, não dorme e não vai ao banheiro: sua mão está presa à caneta e a caneta ao papel. Seu corpo não tem mais forças. Decide acabar com tudo. O personagem saca uma arma e atira à queima roupa na cara da mulher. Antes que o corpo dela chegue ao chão, ele atira contra a própria cabeça. A escritora enfia a caneta em sua jugular e assiste contentemente ao sangue derretendo as páginas daquela história que ela odiou ter escrito.

Visita
Foi passar um fim de semana na casa do tio. Enquanto termina de se enxugar no banheiro, ouve a voz de alguém falando sozinho. Aproxima o ouvido à porta. Seria possível que o tio estivesse rezando? Ali, bem na passagem entre o banheiro e o quarto de visitas? Imagina-se fazendo aquele trajeto correndo, enrolado na toalha. O constrangimento toma conta. E se o tio o interpelasse, convidando-o a se juntar na oração? Inaceitável. Os minutos passam e a voz continua. Crendo que a reza do tio só teria fim com sua presença, não agüenta a pressão: pula a janela e vai embora, começar vida nova em algum lugar distante daquilo tudo.

Lexicofilia
Cresceu ouvindo que seria escritora. Colecionava dicionários, amava as palavras. O que ninguém sabia é que era incapaz de escrever. Como escolher uma palavra em detrimento de uma infinidade de sinônimos? Era lexicamente poligâmica.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Strangelove



Estranho amor, estranhos altos e estranhos baixos
Estranho amor, é assim que é o meu amor
Estranho amor, você o dará pra mim?
Você aceitará a dor? Eu o darei pra você
De novo e de novo, e você vai devolvê-lo?

Haverá vezes em que meus crimes
Parecerão quase imperdoáveis
Eu sucumbo ao pecado
Porque você tem que fazer esta vida "vivível"
Mas quando você achar que eu já tive o suficiente
Do seu mar de amor
Eu vou querer mais de um rio cheio disso
Sim, e eu vou fazer tudo valer a pena
Vou fazer seu coração sorrir

Estranho amor, estranhos altos e estranhos baixos
Estranho amor, é assim o meu amor
Estranho amor, você o dará pra mim?
Você aceitará a dor? Eu o darei pra você
De novo e de novo, e você vai devolvê-lo?

Haverá dias em que vou andar a esmo
Eu posso parecer estar constantemente fora de alcance
Eu sucumbo ao pecado
Porque gosto de praticar o que eu prego
Não estou tentando dizer que terei tudo do meu jeito
Estou sempre disposta a aprender
quando você tiver algo a ensinar
E eu farei tudo valer a pena
Farei seu coração sorrir

Dor, você vai devolver?
Vou dizer novamente - dor (3x)
Dor, você vai devolver?
Não vou dizer novamente

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Does the body rule the mind or does the mind rules the body? I know

Isso é bom demais pra ser relegado às brumas do meu cérebro, por isso vem pra registro.

‎"Ambos [Nietzsche e Espinosa] tomam o conhecimento como o mais potente dos afetos. O conhecimento ser visto como um afeto é algo completamente diferente da tradição filosófica. E é dito como sendo o afeto mais potente. O conhecimento, neste caso, tanto para Nietzsche quanto para Espinosa, é o conhecimento não só da realidade como dos próprios afetos. Se conhecemos a maneira como somos afetados, como funcionamos - nossas reações e motivações afetivas -, esse conhecimento é o que mais tem poder sobre os nossos afetos e, portanto, sobre as nossas ações. A tradição filosófica sempre buscou uma verdade a priori, ou seja, uma verdade em si ou formalmente verdadeira. Tanto Espinosa, no século XVII, quanto Nietzsche, no século XIX, tentam mostrar que uma verdade formal não existe. Segundo eles, nós só existimos no mundo sensível, na realidade, então a verdade consiste em conhecer esse mundo no qual a gente se insere e não conhecer uma verdade que seja formalmente impassível ou imutável."

...

"FILOSOFIA: Mas o homem seria livre para decidir contra os afetos?

Martins: Isso é o que a gente faz o tempo todo, não é? Vamos pensar em exemplos concretos: a pessoa quer parar de fumar e não consegue, quer emagrecer e não consegue, quer ser só bonzinho e não consegue. Por quê? Porque ela está na ficção do livre-arbítrio. Em outros termos, Espinosa diz que achamos que a vontade é livre, mas a vontade não é livre. Ela depende do corpo. Vivemos em uma cultura que se autoengana e, neste sentido, a história da Filosofia inteira está errada. Como se fosse possível, eficaz ou vantajoso tomar decisões contrárias ao nosso corpo e aos nossos afetos. Ou, para usar um termo de Espinosa, que é também um termo da Psicanálise, contrário ao nosso desejo."

...

"Por mais que se acredite e se iluda de que a vontade é livre, a pessoa não vai conseguir ir contra si mesma. E aí vai gerar o quê? Já misturando com a Psicanálise: vai gerar neurose, depressão, a pessoa vai entrar em crise. Não só em respeito à sexualidade como diversas outras coisas. Se estou sem fazer nada em que me sinta realizado, me expandindo, vou ficar deprimido, abatido. Não adianta uma pessoa que está com uma vida infeliz pensar que precisa ter força de vontade. E aí vêm todos os jargões, tanto da religião quanto da autoajuda, quanto da neurolinguística, de ficar repetindo "eu vou aguentar, eu vou aguentar". Você não está tendo o conhecimento como o mais potente dos afetos. Não está tentando entender o que em você faz que esteja infeliz e o que em você lhe motivaria, lhe deixaria mais realizado."


Tlimtlimtlim! Acabei de descobrir a palavra-tema da semana: congruência! Eu já estava há algumas semanas pensando sobre minha relação mente-corpo, que tem preponderância do segundo. E desde que tenho atuado ativamente rumo ao veganismo, tenho sentido que minha mente e meu corpo estão se relacionando mais harmonicamente... Ontem à noite eu pensava mais fortemente nesse tema, lutar contra o corpo, contra o que o corpo deseja, e o tanto que isso é risível e infrutífero. Então, lendo essa entrevista hoje, a sincronicidade fez seu trabalho e eu entendi o tema sobre o qual que devo filosofar esta semana, rs...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

And I would like to give you what I think you're asking for...

eu só queria ter podido dar um beijo de feliz aniversário no meu menino de cabelo roxo... ='(